Sempre sonhei com aqueles grandiosos musicais da Broadway, com as ruas de New York, pessoas andando o tempo todo e aquelas luzes que nunca param de brilhar. Sempre acreditei que esse era meu destino (se é que existe destino), cantar, dançar e interpretar grandes musicais.
Para realizar este sonho, pesquisava nomes de grandes colégios para jovens artistas em países conceituados e planejava meu futuro por lá. Planejava ser tudo aquilo que meus sonhos desejavam.
Mas durante o meu crescimento (tanto cronológico como espiritual e mental) fui percebendo dentro de mim outros desejos dos quais meus sonhos consumiam. O desejo de ser cada vez melhor para mim e para os outro. O desejo de viajar para lugares históricos e pouco conhecidos. O desejo de viajar não só para conhecer o mundo, mas para que o mundo me percorra toda, assim como eu sozinha não consigo fazê-lo. O desejo que ia além do sonho de uma lua de mel em Paris, porque a vida é muito mais que uma lua de mel em Paris.
Porque eu, como toda garotinha programada por tudo e por todos, cresci ouvindo pudores e privações, brincando de boneca sem saber o que aquilo significava, assistindo filmes de lindas princesas que todas nós sonhamos ser.
Cresci com essa certeza dos filmes de a cada frase dita “Eu te amo” era como um gatilho disparado ao som e ao sentimento (como diz Ferreira Gullar). Mas as coisas mudam, sempre mudam... A vida te enche de incertezas e afirmações que estão sujeitas a modificações o tempo todo. Porque quando somos crianças e dizemos que a nossa cor predileta de massinha é vermelha, é essa a certeza que nos cabe. Sem discussões se amanha pode continuar a ser ou não vermelho. E o que importa se não for!
Esse medo de ser julgado pelas pessoas é injetado em nós todos desde que nascemos, só que varia das pessoas desde quando elas passam a aceitar conselhos fracassados. “Amadurecemos” com fraquezas que não são nossas, e com medo de afirmar o hoje sem certezas para no final nos contradizermos e apontarem nossos erros.
A vida é feita de incertezas, porque nem o fato deu estar viva me garante a vida. E eu nunca saberei se isso que sinto é amor, ou de tanto escutar essa palavra me convenci disso. Nunca saberei se gosto mesmo dos Beatles ou de tanto os escutar me convenci que gosto. Ou que me criei assim para me convencer de que não gosto de ser como os outros. Que um dia, coloquei em minha cabeça que queria ser uma atriz da Broadway de tanto assistir a musicais. Ou que sonhava em passar a lua de mel em Paris por achar que não só a pessoa tinha de ser mágica, mas o lugar também.
Mas como já afirmei anteriormente, as coisas mudam o tempo todo, e é uma coisa que gosto de repetir. Porque mesmo com essa garotinha dos sonhos parisienses dentro de mim, criei outras expectativas.
Porque meu desejo maior, hoje, é visitar a ilha de Java, ou saber como funciona o FIB (Felicidade interna Bruta) no Butão. Como eles que tem vidas tão escassas podem ser mais felizes que nós, que acreditamos ter tudo. Conhecer as florestas selvagens da China e ver as auroras boreais na Groelândia. Conhecer a Rússia, o país de uma de minhas heroínas.
Tudo isso não muda o meu sonho de conhecer Itália e seus segredos, e descobrir o que me espera em Viena (Billy Joel), mas me convence de que nós não estamos estagnados num só ponto, num só sentimento. Porque o tempo é um senhor superior que nunca para e não sente pena de ninguém. Ele marca e te traga. Mas principalmente, ele passa como tudo na vida, ele passa.
Descobri que eu sou ampla e infinita, e nunca me descobrirei toda, porque sou uma desbravadora de mim mesma. E tenho mais amores do que pensava, mais talentos do que conhecia, mais desejos que poderia imaginar.
Hoje, não me importo se vou ou se fico, porque o que nos resta no final são as nossas lembranças e as historias que criamos com elas. Porque é isso que vai preservar o que não pode ser mudado, o passado.
